Na conferência virtual sobre património geológico organizada pela Universidade de Oxford em maio de 2020 foi nomeado um grupo de trabalho para preparação de uma proposta à UNESCO para estabelecimento de um Dia Internacional da Geodiversidade.
Esse grupo foi constituído pelos professores José Brilha (Univ. Minho), Murray Gray (Univ. Queen Mary, Reino Unido), Zbigniew Zwoliński (Univ. Adam Mickiewicz, Polónia) e Doutor Jack Matthews (Museu de História Natural da Univ. Oxford, Reino Unido). No texto elaborado que foi apresentado à UNESCO em 4 de março de 2021 pode ler-se (tradução livre): “A geodiversidade designa a variedade de elementos não vivos da natureza – incluindo minerais, rochas, fósseis, solos, sedimentos, formas de relevo, topografia, processos geológicos e morfogenéticos e elementos hidrológicos como rios e lagos. A geodiversidade é o substrato da biodiversidade e de todos os ecossistemas, mas tem os seus próprios valores, independentes da biodiversidade.” (https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000375688), A proposta foi copatrocinada por mais de 70 países e foi aprovada por unanimidade no Conselho Executivo das Comissões da UNESCO em 16 de abril de 2021. | Fórnia de Alvados, cabeceira de vale em forma de anfiteatro escavado pelo recuo das vertentes em resultado da erosão das nascentes cársicas situadas no sopé. O incremento da visitação tem-se traduzido na acentuação dos caminhos existentes e na abertura de novos trilhos. Correm preocupantes rumores sobre futura intervenção humana no sentido de construção de estruturas artificiais que marcariam o primeiro traço de modificação impactante nesta forma de relevo, até agora mantida no seu estado natural. [Foto ©JACrispim/SPE, 2014] | |
A importância do reconhecimento a este nível do conceito de geodiversidade permite encarar de forma mais otimista a sensibilização para os valores da diversidade geológica e para as ameaças a que está cotidianamente sujeita, ao mesmo tempo que aumenta as possibilidades de impor a sua gestão, não só em termos de ordenamento do território, mas também no que se refere a sua conservação, requalificação e valorização prudente.
Se o conceito de biodiversidade tem meio século, já o de geodiversidade tem apenas três décadas e, talvez por isso, é habitual verem-se as referências aos aspetos geológicos ligados de forma subordinada à biodiversidade. Por exemplo, a notícia sobre este tema dada por um canal de informação online muito conhecido é ilustrada com uma fotografia de uma ave sobrevoando o ninho. Poderia talvez ter sido substituída pela de um sapo lançando a língua sobre um desprevenido inseto. Mas porque não por uma fotografia mostrando o vigor de uma escarpa de falha, ou as simetrias naturais de estratos dobrados, ou a regularidade geométrica de uma superfície de erosão? Simplesmente porque, no público em geral, nos divulgadores e nos responsáveis pelo território, não existem de todo ou são escassas as referências culturais identificadoras da geologia como valor da natureza. Não será certamente raro ver os temas de geologia nos estudos de impacte ambiental serem tratados por arqueólogos ou biólogos; são, talvez, exceções os municípios que têm geólogos nos seus quadros; é sabido que tradicionalmente o geólogo é visto como um técnico relacionado com a exploração dos recursos ou com questões geotécnicas. A reversão desta situação cabe antes de mais aos geólogos, desde logo incluindo na sua formação uma componente muito importante sobre os três temas que se interrelacionam: geodiversidade, geoconservação e património geológico. E é aqui que se deve destacar o papel de um grupo de geólogos que no nosso país tem por patrono o Prof. Galopim de Carvalho, e que tem sido fortemente dinamizado pelo Prof. José Brilha e a sua equipa da Universidade do Minho, que soube integrar um conjunto de investigadores na defesa da causa da geodiversidade e questões associadas. A Sociedade Portuguesa de Espeleologia sente-se honrada por um seu associado e um membro do Conselho Científico estarem tão indelevelmente ligados ao Património Geológico e à iniciativa do Dia Internacional da Geodiversidade. |
6 de Outubro, Dia Internacional da Geodiversidade
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