O Algar da Manga Larga, na Costa da Mendiga

A Costa da Mendiga é a designação local para a escarpa de falha que forma o bordo oriental da depressão da Mendiga. Com um comando nalguns pontos superior a 150 metros, esta vertente é sulcada por algumas linhas de água, em geral pouco entalhadas, cujo controlo estrutural se pode aferir no seu troço superior convexo onde são patentes fracturas com direcção WNW a NW.

Alguns algares importantes abrem-se em diaclases com esta orientação e em geral atingem grandes profundidades, como é o caso do Algar da Manga Larga.

Indicado em 1971 pelo Sr. António Carolino, da Azelha, numa grande jornada de prospecção feita por uma equipa da SPE constituída por João Sena e J. A. Crispim na qual foram identificados vários algares importantes da região, esta cavidade só mais tarde foi descida e constituiu uma das grutas de trabalho intensivo da SPE no final da década de 70.

Algar da Manga Larga
Boca do Algar da Manga Larga e tendas durante as campanhas dos anos 70, vendo-se ao fundo a depressão da Mendiga e a Serra da Lua (ainda sem pedreiras) em último plano, à esquerda. Foto JACrispim/SPE, 1975

O algar situa-se na base de um pequeno escarpado que limita um dos muitos ressaltos na vertente (“manga” é a designação local para a faixa de terreno, em geral menos inclinada e menos rochosa, situada entre duas cornijas contíguas formadas pelas camadas calcárias com maior espessura), a cerca de 470 metros de altitude.

O poço de entrada, com grandes dimensões, vence um desnível superior a 50 metros e é formado numa diaclase bastante alargada onde se observam os efeitos da descompressão. Cerca dos 60 metros de profundidade, uma passagem estreita vertical dá acesso a uma sucessão de poços, alguns com secção elíptica mas em geral bastante alongados. Por vezes, caminha-se num chão correspondente ao estreitamento da diaclase ao longo da qual se desenvolve o poço, deixando diminutas comunicações para o poço inferior. Para cima as diaclases também se prolongam em altas chaminés. As paredes mostram menos vestígios de abatimentos e estão, em muitos locais, atapetadas por concreções coralóides ou em couve-flor.

Devido à sua configuração e comunicação entre os vários poços, no algar desenvolvem-se curiosos fenómenos de circulação de ar, nomeadamente em certas épocas do ano, nalguns períodos do dia ou com determinadas condições atmosféricas exteriores. A presença de espeleólogos também pode desencadear a circulação do ar por convecção.

Distribuídos por vários patamares inclinados, os vários níveis de poços vão permitindo a descida em ressaltos até se atingir profundidades superiores a 200 metros.

Algar da Manga Larga
Paulo Caetano a preparar descida em poço com entrada estreita, a – 60 metros, no Algar da Manga Larga. Foto JACrispim/SPE, 1988

Algar da Manga Larga
Paulo Caetano, João Noiva (na corda) e Eduardo Paralta em poço a – 100 metros, no Algar da Manga Larga. Foto JACrispim/SPE, 1988

J.A.Crispim, Junho 2012

Como citar este artigo: Crispim, J.A., O Algar da Manga Larga, na Costa da Mendiga, in https://www.spe.pt/espeleologia/prospeccao-e-cadastro-espeleologia/339-o-algar-da-manga-larga-na-costa-da-mendiga , Junho 2012