Final dos anos 60, início dos anos 70. Em Alvados era grande a febre por grutas, estalactites e estalagmites. As Grutas de Santo António atraíam dezenas de autocarros que faziam intermináveis filas desde Moitas Vendas até à Aldeia da Serra de Santo António e por aí acima chegavam quase à Pedra do Altar. Em Alvados era mostrado aos espeleólogos de então um grande algar na Ladeira dos Carrascos, que passou a ser designado por Algar do Cabeço do Roubo. Não longe, uma lapa, que levava o mesmo nome do algar, tinha em comum com ele a presença de estalactites e estalagmites. Estava traçado o nascimento de outra gruta turística, baptizada apenas “de Alvados”, que iria rivalizar, não só com a vizinha de Santo António, mas também com as de Mira de Aire. As três dividiriam largos milhares de turistas num Portugal em ascensão económica após o 25 de Abril. Encontrar outras grutas com estalactites para abrir ao turismo foi por esses tempos a ideia de muitos habitantes dessas aldeias da serra mas em Alvados um se destacou: o Sr. João Lopes. Além das muitas lapas visitadas ele ainda se lançou na aventura de desobstruir a nascente que dá nome a uma das escarpas de falha mais proeminentes na paisagem do polje de Alvados, a Falsa. Encontrariam água em permanência por trás desta nascente falsa, que só nalguns meses de Inverno alimenta o perdido ribeiro que dá água ao Rio Cabrão? Descobririam outra gruta turística? | |
A escarpa de falha da Pena da Falsa, na base da qual se situa a nascente. Em último plano a Cabeça Aguda. Foto JACrispim/CEGUL, SPE, 2000 | |
Nem uma coisa nem outra. Sobretudo de início, estreitas fendas formando cotovelos angulosos, capazes de roubar roupa e pele e apertar os ossos dos mais entroncados, era tudo o que a nascente tinha para dar. A pouco e pouco a gruta alargava-se e à rocha viva sucedia por vezes a lama e mais tarde a areia. Era a morfologia típica de um perfil longitudinal irregular, onde aos sifões se sucedem troços de galeria mais ou menos horizontal. Aqui e ali mantos estalagmíticos. Mais à frente chaminés e poços. Laminadores e passagens estreitas com formas variadas, ressaltos e, outra vez, lama. E nada de gruta para abrir ao turismo nem água de confiança. Para trás ficaram lampiões e petromaxes e canseira de mais para tão desventurada gruta. Mas estava descoberta uma das grutas mais interessantes da região, não só do ponto de vista hidrológico mas também em termos da evolução espeleogenética associada ao Polje de Alvados. Este longo troço de galeria irregular e dimensões modestas, onde a progressão se faz com dificuldade, acompanha durante cerca de 800 metros a direcção da falha, após o que se liga a um colector fóssil de grandes dimensões, embora interrompido por troços apertados, que durante cerca de meio quilómetro segue direcção aproximadamente perpendicular à anterior. | |
Vistas de jusante e de montante da nascente da Falsa, com Pedro Marote. Na foto da direita vê-se ao fundo a Costa de Minde, também uma escarpa de falha. Foto JACrispim/CEGUL, SPE, 1996 | |
J.A.Crispim, Julho 2012 | |
Como citar este artigo: Crispim, J.A., A Gruta da Falsa, no Polje de Alvados, in https://www.spe.pt/espeleologia/prospeccao-e-cadastro-espeleologia/342-a-gruta-da-falsa-no-polje-de-alvados , Julho 2012 |
A Gruta da Falsa, no Polje de Alvados
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