A Gruta do Mindinho a norte de Mira de Aire


Das grutas de Mira de Aire esta é talvez a menos famosa, se a compararmos com as de Moinhos Velhos, Pena, Contenda e Olho, e até mesmo com as grutas da Fraga, da Bailarina e Pedreira do Batista, o que se deve certamente ao facto de se situar numa área já afastada do núcleo da vila.
De qualquer modo, ela fez parte das primeiras visitas do período de fundação da SPE, muitas das quais guiadas pelo Sr. Manuel da Tia, e continuou a chamar a atenção das gerações seguintes de espeleólogos que dinamizaram a SPE nos anos sessenta e setenta.
A água acumulada numa zona estreita e lamacenta da parte mais profunda era o término das incursões exploratórias.
São de meados dos anos setenta as explorações de João Ponces de Carvalho e Henrique Cabreira. O delinear de uma estratégia global de estudo das circulações subterrâneas no Polje de Minde, que seria posta em prática nos anos oitenta, começa realmente com tentativas de mergulho em apneia e de esvaziar com balde a água que impedia a passagem. Ainda sem dominar as técnicas de bombeamento pesado, os primeiros esforços, realizados com equipamento muito ligeiro e com capacidades escassas, tiveram um sucesso limitado.

Gruta do Mindinho

Amanhecer no acampamento da campanha de 1984 na Gruta do Mindinho. Foto JACrispim/SPE,CeGUL, 1984

Em meados dos anos oitenta a SPE concentrou várias equipas na região que envolveram grande número de sócios, dos quais é justo salientar João Francisco Duarte e Mário Simões, embora outros não sejam de menor monta, e a gruta foi alvo de campanhas sucessivas de bombeamento nas quais se pôs a descoberto a existência de 20 sifões, para um e outro lado do antigo término das explorações.
A zona montante foi sendo percorrida após se esvaziar o Sifão da Janela, o Sifão das Lamas I, o Sifão das Lamas II, o Sifão dos Blocos e o Sifão da Diaclase. Esvaziado o Sifão da Bifurcação teve-se acesso à zona mais concrecionada da gruta, felizmente protegida por esse sifão das acções de vandalismo tão visíveis nas salas da entrada. O próximo sifão só seria encontrado após uma cascata que se segue aos Grandes Mantos. O Sifão da Cascata antecede o sifão mais longo, o Sifão Comprido, e até aos Dois Poços a Galeria Principal inclina nitidamente. Para lá dos Dois Poços pouco se anda e encontra-se logo o Sifão do Ressalto e depois o Sifão Baixo. A progressão começa a complicar-se nesta zona e após um troço mais calmo voltam os sifões: o Sifão da Chaminé, o Sifão do Dique, o Sifão do Bloco, o Sifão Curvo, o Sifão Alto, o Sifão do Tabique e o Sifão dos Blocos Grandes. O Sifão Seco antecede a zona mais perigosa da gruta constituída pelo extenso Sifão da Rampa de Lama cuja terminação, em passagem estreita e baixa constitui o ponto de natural deslizamento das lamas empapadas em água que flúem lentamente e ameaçam despenhar-se a todo o momento. Mas a continuação não é mais fácil pois está completamente bloqueada com areia que fecha estreitas fendas na rocha e foi necessário retirar com muito trabalho.

Gruta do Mindinho

Pequena galeria na base dos Dois Poços, donde regressa Carlos Sá Pires após sessão de topografia. Foto JACrispim/SPE,CeGUL, 1985

Próximo dos 100 m de profundidade, já com mais de meio quilómetro percorrido e com a ameaça do Sifão da Rampa de Lama, os meios empregues ficavam no limite de utilização razoável e foi decidido não esvaziar o estreito sifão que se segue, o Sifão da Fenda, a ser retomado numa abordagem conjunta com a Gruta do Olho de Mira, com a exploração e estudo hidrológico do corredor entre elas e aliando duas técnicas de bombeamento com apoio de mergulho.
Nos anos seguintes esse corredor é avaliado, são visitadas várias cavidades e é iniciada a desobstrução de um dos sumidouros.
Em 2005 a SPE fornece os dados topográficos desta gruta, entre outras, para candidatura do Sítio Ramsar “Polje de Mira-Minde e Nascentes Associadas”, apontando para a sua inclusão no perímetro desta área classificada.
Em 2006, após várias tentativas noutros anos, consegue-se finalmente uma situação meteorológica muito favorável e é feita uma traçagem entre o Mindinho e o Olho de Mira que comprova fazerem parte do mesmo sistema subterrâneo (Lopes et al, 2007). Em 2010, face à aprovação do Regulamento do POPNSAC, a SPE inicia reuniões com o ICNB que levam à apresentação de planos de trabalho no Polje de Minde que incluem esta gruta.

Gruta do Mindinho

 A estreita galeria de acesso ao Sifão da Cascata, cujas paredes estão profusamente cobertas por vagas de erosão, é atravessada, já perto do lago montante, por João Francisco Duarte.
Foto JACrispim/SPE,CeGUL, 1984

Gruta do Mindinho

Trabalhos de desobstrução do rolhão
de areia que impede a passagem no ramo jusante do Sifão da Rampa de Lama.
Foto JACrispim/SPE, CeGUL, 1987

Gruta do Mindinho

João Noiva, Carlos Sá Pires, Paulo Caetano e Mário Simões chegam à sala que antecede o Sifão da Fenda, no fim da campanha de 1987. Foto JACrispim/SPE,CeGUL, 1987

J.A.Crispim, Setembro 2012

Como citar este artigo: Crispim, J.A., A Gruta do Mindinho, a norte de Mira de Aire, https://www.spe.pt/espeleologia/prospeccao-e-cadastro-espeleologia/345-a-gruta-do-mindinho-a-norte-de-mira-de-aire, Setembro 2012